terça-feira, 22 de junho de 2010

CONFLITOS - PARTE I

Oi pessoal! Faz tempo que queria postar algumas partes da minha monografia aqui pois a ideia de ter blog surgiu exatamente pelo meu interesse em falar um pouco sobre psicologia e dos conflitos cotidianos conscientes e inconscientes!

Minha monografia foi baseada nos conflitos que enfrentamos, desde a hora que nascemos até a hora em que deixamos de ser adolescentes. oO

Espero poder ajudar a muitas pessoas! Sei que tenho amigos que precisam ler muito algumas coisas que estou colocando aqui e ficarei muito feliz se conseguir esclarecer algumas coisas a eles!













Se parece possível verificar o começo da adolescência, que identificamos com o inicio da puberdade, é mais difícil determinar quando este período acaba.


Diz-se que a adolescência acaba quando o jovem adquire uma vida afetiva e financeira independente dos pais. Entretanto, o que escutamos na clínica nos mostra que a independência afetiva dos pais às vezes não se produz nunca, e a financeira é também muito variável. Ou, por vezes, o sujeito tornou-se independente dos pais mas não de outras pessoas, com as quais reproduz a relação que tinha com eles. Poderíamos dizer que o sujeito só sai da adolescência após ter se separado por completo do Outro? Cairíamos na falácia de pensar que apenas a analise permitiria ao sujeito sair da adolescência e, com isso, faríamos coincidir o conceito de adolescência com o de neurose. Isto permitiria concluir que essa resposta é superficial, e que a clinica não a corrobora.

Todavia, o conceito de adolescência se impõe ao saber popular não só como um momento de transição entre a vida infantil e a vida adulta, mas como um momento de crise. Crise da adolescência, crise da puberdade, crise de identidade são termos usados comumente.

Ora, na psicanálise sabemos que crise é a palavra vulgar com que se define os períodos da aventura humana em que as respostas, sempre enganosas, dificilmente conseguidas, se demonstram falhas. Momentos de encontro com o Real traumático em que a vida do ser falante, na sua diacronia significante, mostra-se descontínua.

De todas as crises que o ser humano enfrenta é, certamente essa da adolescência a mais radical: todas as velhas respostas são percebidas como “furadas”.

A esperança infantil de que crescendo a relação sexual existiria se demonstra falsa. Para adiar o encontro com a não relação sexual, ou pelo menos ritualizá-la, os adolescentes brasileiros encontraram a formula do ficar, compara a essa outra invenção humana conhecida pelo nome de amor cortês. Agora são os próprios grupos de adolescentes que sancionam se as regras rígidas do ficar foram ou não respeitadas.

O corpo, eterna alteridade absoluta, mascarava seu caráter de estrangeiro com a enganosa mestria da identificação especular. Mas na adolescência o corpo se impõe como Outro, e o sujeito perde a mestria sobre ele. O sujeito se confronta com o estranhamento do encontro com o não-especularizável do estádio do espelho. Isto tem como correlato o sentimento de despersonalização, que deve ser diferenciado da despersonalização psicótica. Também neste ponto os adolescentes brasileiros se demonstram sábios, já que a pratica exaltada de esportes, danças e ginásticas minimiza as diferenças e o corpo lhes aparece como domesticável.

Os pais são percebidos na sua necessária pequenez em relação ao que tinham sido chamado e encarnar e ao que continuam encarnando no inconsciente: o Outro. A autoridade frente a qual até o momento se posicionavam é relativizada. Os ideais vacilam, e os adolescentes saem à procura de novos ideais.

Enfim, o sintoma, resposta com que se tinha satisfeito até o momento à pergunta: “O que o Outro quer de mim?”, vinha sendo: “sou criança”. É com este significante e neste mundo infantil que o sujeito, até então, se assegurava de seu lugar no outro.

Não surpreende que a adolescência seja um momento privilegiado para a eclosão da psicose. A suspensão das respostas opera como um chamado ao Nome-do-Pai e o sujeito, em cuja estrutura o Nome-do-Pai não está bem amarrado, corre o risco da separação dos registros Real, simbólico e Imaginário, e o da produção de um surto.

Sabemos que na adolescência se revive o complexo de Édipo. Mas para além do Édipo é um momento de relançamento, de suspensão da alienação significante. Uma época em que se repete o mito da escolha forçada do sujeito. Com maior ou menor consciência disso, segundo cada caso, o sujeito se vê chamado a renascer para se colocar em questão que, em surdina, sempre acompanha o ser falante: o supremo Bem é a vida ou é a morte? Concordo com Sonia Alberti quando ela coloca que a morte para os adolescentes é uma questão ética e não só o resultado da noção psicologizante da tendência de agir.

Em toda crise, quando se presentifica o nonsense da vida, essa questão aparece. Que face do desejo escolher? Aquela que nos leva a sua única satisfação possível na morte ou aquela eu nos faz desejar continuar a desejar?

A questão da morte sempre está explicita na adolescência. Mas agora a escolha já não é entre se alienar ao desejo do Outro ou escolher a morte como principio de inércia, tal como se poderia pensar que aconteceu quando do nascimento do sujeito. Trata-se, neste momento, de uma escolha entre se alienar ou se destruir, ou seja, entre alienação ou pulsão de morte propriamente dita. A tentação de se optar pela morte é muitas vezes intensa. Pode ser também acompanhada, como coloca Lacan no seminário da Ética, da fantasia de começar tudo de novo.

As fugas, as situações de risco, os acidentes de repetição, as experiências com drogas são outras formas de demonstrar essa vacilação entre morte e vida- são situações que, seja na vertente do acting out “ele pode me perder?”, para tentar se escrever como falta no Outro, seja na vertente passagem ao ato “não quero saber mais nada disso”, têm o valor de pôr em jogo a fantasia da própria morte.

A depressão e a tristeza sem causa aparente, definidas por Lacan como covardia moral, tão freqüentes na adolescência, mostram que o sujeito não quer saber o que deseja – frente ao dilaceramento da questão prefere nada saber. O sujeito abdica do desejo para não ter que decidir sobre questão tão crucial, e não pode mais responsabilizar o Outro pela resposta.

A saída da adolescência corresponderia a uma opção, uma escolha, ainda que transitória. O adolescente acaba, normalmente, por escolher novas alienações significantes. Infelizmente, não todos. Novos ideais, novas significações, novos sentidos para a vida. Novos sintomas. A adolescência acaba quando as perguntas se acalmam. O sujeito opta ou por se tornar o que se chama vulgarmente de pessoa de bem, levando em conta o que significa o Bem como barreira em relação à satisfação dos desejos, ou por ser um canalha, direcionando para fora seu desejo de destruição. Até a próxima crise, essas respostas funcionam.
Mas a adolescência fica para sempre na lembrança como o momento crucial de interrogações. Como demonstra Sonia Alberti em seu livro, quando um autor retoma a adolescência e a romantiza em um trabalho semelhante ao analítico. Na literatura, o adolescente resolve suas questões percebendo que todas as respostas são ficções, máscaras úteis para manter vivo o desejo.

Apesar disso, há um traço que é constante: a adolescência é sempre um momento da vida que encontra sua especificidade no fato de fechar um ciclo que vai da infância a vida adulta. Entre esses dois momentos, situa-se a adolescência. Nada de especifico caracteriza o momento enquanto tal. É uma verdadeira zona de passagem: um período que encontra sua razão de ser em sua resolução. É o ponto final da adolescência que dá sentido a esse lapso de tempo: seja porque o sujeito se prepara para a vida ativa, seja pelas modificações físicas que o tornam apto à procriação, e pela pressão de algumas figuras mais ou menos definidas, em função da época ou do contexto social onde ele evolui.

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