terça-feira, 15 de novembro de 2011

Adolescência prolongada.



RITVO (1971) chama atenção para a fase final da adolescência, quando a última e grande integração e estruturação da personalidade toma lugar. A duração e o estilo da adolescência é muito influenciada por fatores sociais e culturais mais que qualquer outro período de desenvolvimento na vida do indivíduo. O início pode ser determinado pela biologia, pela cultura, pelas questões políticas e econômicas, mas pode ser continuado e prolongado pelas condições da sociedade e pela estrutura familiar.
Na fase final da adolescência há uma organização estável das funções do ego, uma extensão da esfera livre de conflitos desse ego até a autonomia secundária, uma identificação sexual irreversível, uma constância objetal e uma estabilização do aparelho mental. JACOBSON (1954) coloca grande valor nas mudanças do ego e nas identificações do superego adolescente.
Na adolescência final haveria um incremento de poder do ego que lhe daria um acréscimo de influência no Id e superego. O ego adquiriria um papel de mediador ativo, para isso seria fundamental o papel da formação do ego ideal. A crise da adolescência final apareceria quando houvesse um malogro para resolver os efeitos da neurose infantil e outros distúrbios prévios de desenvolvimento que embaraçariam o estabelecimento de relações objetais. O indivíduo em crise responderia intrapsiquicamente aos conflitos com os atalhos preparados por sua história de vida anterior. Isso seria relativamente válido de geração para geração e o que mudaria seriam as condições que a pessoa teria em mãos no seu período histórico.
A expressão “adolescência prolongada” foi introduzida por Bernfeld em 1923 e seu objeto de investigação na época era a adolescência masculina prolongada como fenômeno social observada nos movimentos europeus de juventude após a primeira guerra. Havia nesses grupos uma predileção pela intelectualização e repressão sexual, retardando com isso a consolidação do conflito adolescente. Este termo com o tempo passou a ter uma conotação mais ampla sendo hoje um termo descritivo e coletivo que compreende condições de constelações dinâmicas heterogêneas.
O termo refere uma perseveração na posição adolescente, a qual, em circunstâncias normais, tem um tempo limitado e uma natureza transitória. Uma fase de amadurecimento, que deveria ficar para trás depois de realizada sua tarefa, torna-se um meio de vida. Esse adolescente luta para contornar a finalidade das escolhas que são feitas ao final da adolescência; o processo de adolescer não é abandonado, mas mantido em aberto. Adolescentes têm, em geral, uma inabilidade para ficar sós e essa inabilidade os força a unir-se em grupos. As companhias socorrem-nos dos devaneios e das preocupações auto-eróticas. A amizade com outros rapazes é transitória e instável e um envolvimento homossexual é uma ameaça constante. Têm prazer nas relações sexuais, mas essas, se melhor examinadas, se mostram do tipo de prazeres preliminares. As moças são procuradas como um desafio adequado ao apego incestuoso do parceiro, seja por parecer ou diferir de membro significativo da família.
Há nesses adolescentes uma constelação infantil típica, foram considerados pelos pais, mais enfaticamente pela mãe, como destinados a grandes coisas na vida. A adolescência prolongada evita uma crise que deve terminar com a compreensão de que o mundo fora da família não reconhece o papel que a criança tentou desempenhar nas duas primeiras décadas de vida. Quando tentam romper esses laços, percebem que tal atitude é acompanhada de um empobrecimento narcísico que não são capazes de tolerar. O senso de tempo dos adolescentes é então afetado pela substituição constante do futuro pelo passado. Se por um lado têm resistência à pressão regressiva, por outro lado persistem em evitar qualquer consolidação do processo adolescente. Como aceitavam placidamente a posição exaltada em que eram colocados, desenvolveram uma auto-suficiência submissa. Sentiam-se bem na presença feminina e constrangidos e receosos nos seus contatos com homens.
Há uma falha na organização hierárquica dos instintos e das funções do ego. O processo adolescente pode ser considerado fechado quando uma organização hierárquica e relativamente inflexível de instintos pré genitais e genitais é alcançada e quando as funções do ego adquirem uma significativa resistência à regressão. Ocorre então o desenvolvimento de uma autonomia secundária do ego. Quando o conflito da bissexualidade, que faz parte do desenvolvimento normal, pressiona por uma solução final na adolescência propriamente dita, este adolescente o contorna pela preservação na posição bissexual. Na adolescência prolongada se encontra a paradoxal figura em que não há conflito com o qual negociar porque nenhum conflito é experienciado. Esses adolescentes têm que ser ajudados a alcançar o conflito adolescente propriamente dito antes que a fase de consolidação da adolescência terminal chegue. A incapacidade de abandonar posições infantis, juntamente com o desejo de independência e auto afirmação fora dos limites da família combinam-se para fazer do prolongamento da adolescência a única solução. Solução essa, protetora contra duas alternativas: a regressão e o rompimento com a realidade, a solução psicótica; ou a repressão e formação de sintomas, a solução neurótica.
Pode-se dizer que a estrutura da adolescência prolongada é similar a de uma desordem de caráter. Em ambos os casos as restrições do ego não são vivenciadas como distônicas; porém não há a rigidez própria de uma desordem do caráter, já que, de modo geral, há acessibilidade a medidas terapêuticas.
Para REICH (1927) o caráter consiste em assumir uma mudança crônica do ego que poderia ser descrita como um endurecimento com finalidades protetoras, podendo levar a restrição da mobilidade psíquica. Essa blindagem é mitigada por relações que o autor chama de não caraterológicas. Há um período determinado para a adolescência prolongada; seu limite se daria a partir da metade da década dos vinte anos quando teria de se submeter a um esquema mais organizado e mais rígido. O distúrbio de caráter narcísico seria o que melhor descreveria a tendência geral do desenvolvimento patológico que a adolescência prolongada poderia acabar por assumir. O que leva esses jovens a procurar ajuda terapêutica são as frustrações narcísicas devidas a desapontamentos ou fracassos na educação, vocação, atividades sociais, ou, mais forte ainda, nos fracassos amorosos. O que torna mais difícil o aborde terapêutico é a perda da plasticidade do adolescente. Na delinqüência ocorre um uso preponderante de soluções aloplásticas, ou seja, voltadas para o exterior. Na neurose há soluções autoplásticas, ou seja, voltadas para o mundo interno. Na psicose ocorrem soluções autísticas de adaptação.
Para finalizar, cita-se Helene DEUTSCH (1944), que disse que havia homens que permaneceriam na adolescência até a idade avançada e seu climatério não seria realmente uma revivescência e sim um reforçamento da continuação duradoura de sua adolescência.
A adolescência é o período de duração variável que se coloca entre a infância e vida adulta. No seu curso ocorrem várias mudanças no desenvolvimento biológico, psicológico e social do indivíduo, sendo que o fenômeno relacionado às mudanças físicas é denominado puberdade e o fenômeno psicológico denominado adolescência. Biologicamente, começa com o aceleramento do crescimento esquelético e início do desenvolvimento sexual; psicologicamente, começa com o aceleramento do crescimento cognitivo e formação da personalidade e, socialmente, caracteriza-se como um período no qual o indivíduo se prepara para seu futuro papel de adulto jovem. Quando a puberdade e a adolescência não ocorrem ao mesmo tempo, ocorre acréscimo de tensões, com as quais o jovem tem de lidar. Em algumas culturas, o início da adolescência é marcado por ritos nos quais o adolescente realiza testes de coragem e força; entretanto, nas sociedades tecnológicas o limite entre meninice e adolescência não é muito nítido.
A Síndrome da Adolescência Normal é um processo que visa à construção da personalidade do indivíduo. Caracteriza-se por:
- Busca de si mesmo e da identidade;
- A tendência grupal;
- Necessidade de fantasiar e intelectualizar;
- As crises religiosas;
- A deslocalização temporal;
- A evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade;
- Atitude social reivindicatória;
- Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta;
- Separação progressiva dos pais;
- Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo.
Para passar pela adolescência, o indivíduo tem que passar por três lutos fundamentais: (1) Perda do corpo infantil; (2) Perda dos pais da infância; e (3)Perda da identidade e do papel infantil. O final da adolescência ocorre quando o adolescente adquire todos os direitos e privilégios de um adulto, o que pode variar dependendo da sociedade em questão.